terça-feira, 8 de março de 2011

Sobre as mulheres

Feministas do século XX, em Washington


Eu me lembro das primeiras comemorações do Dia da Mulher das quais fiz parte: eram festividades organizadas pelo colégio onde eu estudava; as crianças mais novas pintavam nos rostos corações vermelhos e cantavam alguma música relacionada a amor, carinho e eternidade, a qual estavam ensaiando desde o início das aulas. Era bem comum que Roberto Carlos estivesse no repertório. Os mais exibidos cantavam aos berros, e os mais tímidos apenas mexiam os lábios para orgulharem as mães que os assistiam e, convém dizer, para não serem repreendidos depois. As crianças maiores decoravam um poema ou dividiam um texto em partes para falarem – ou, no caso dos mais esquecidos, lerem – para as mães homenageadas. Não importa se a mensagem se tornava incompreensível para boa parte dos presentes. O que importa é que, ao fim da apresentação, 80% das mães choravam emocionadas e abraçavam os filhos como se aquele fosse o melhor presente imaginável. Eu, particularmente, sempre ganhava um Batom Garoto no caminho de volta para casa, àqueles dias.

Mas a questão é que, embora sejamos habituados desde crianças a relacionar a figura feminina com a de mãe, ela não se limita àquelas que passam ou já passaram pela maternidade. Eu sempre me perguntei, depois que iniciei a mania das indagações, a razão pela qual aquelas esforçadas e jovens professoras não era igualmente homenageadas naquele dia. Ou as moças da coordenação. Ou as da cantina. Ou as serventes.

Sempre fui defensora incurável dos direitos femininos e acredito que as grandes mulheres vão desde a minha vó e a criação de seus dezesseis filhos na interior do Rio Grande do Norte em pleno período de secas até aquelas empreendedoras ou políticas, solteiras e sem filhos, mas que nem por isso deixam de ser mulheres admiráveis.

Eu poderia iniciar uma explanação sobre grandes e distantes mulheres da história e a contribuição de casa uma para que hoje as coisas sejam diferentes. Desde Joana D’Arc, queimada como bruxa no século XV, até Yolanda Penteado, destemida fazendeira do século passado e ainda a pintora mexicana Frida Kahlo. Porém, não há uma razão para isso quanto temos novas conquistas femininas efetuadas todos os dias. E não estou falando da presidente Dilma (sem descartá-la, obviamente), mas de todas as mulheres batalhadoras que sustentam o nosso espaço aberto: seja em um ramo cultural, político, econômico, social, familiar, para não citar todos os outros.

As mulheres são e devem continuar a ser homenageadas. Não exatamente pelo que outras mulheres fizeram a dezenas e centenas de anos, mas pelo que fazemos todos os dias!
Ser mulher pode até não incluir mais o carma de uma vida submissa, mas não deixa de ser uma tarefa árdua para aquelas que fazem jus à figura que representam.

8 de março não é somente o dia em que algumas de nós recebem congratulações pelas lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres, mas deve ser, principalmente, o dia para lembrarmos de honrar o espaço que conquistamos. Continuemos fortes e sensíveis; seguras e emotivas; encantadoras e encantadas; batalhadoras e delicadas; e toda a carga de adoráveis paradoxos que conseguimos sustentar.


À todas as mulheres da minha vida, e que fizeram e fazem de mim a mulher que sou e me torno a cada dia.

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