(Não detenho o direito autoral da imagem) |
Acostumada a ser Fera, habituou-se com os próprios espinhos. Avisava de antemão o que deveriam esperar as pessoas que dominava. Como monstro, magoava, espetava, estraçalhava. Não por querer, mas achou que aquela personalidade era tudo o que tinha dentro de si.
Achou, contudo, fera mais feroz, que fez de si, Bela. Contente por, finalmente, ter-se livrado da maldição, das carrancas e espinhos, concentrou-se em cuidar, preocupar-se, e amar, como ela imaginava que uma Bela faria. Havia um problema, porém. Fragilizada, não tinha qualquer defesa contra os ataques da fera por quem se apaixonara.
Sentia os espinhos lhe furarem a pele, as garras lhe arranhavam os membros, a força lhe quebrar os ossos, e o descaso murchar suas pétalas.
Decidiu, portanto, não mais ser Bela. Emudecida em seu próprio sofrimento, sentiu-se fortalecer, os membros crescerem e as garras ressurgirem. Os olhos, que outrora foram claros e puros, tornavam-se negros como a ausência de esperança. O corpo maculado agora era uma carcaça, tão rígida quanto o mármore, de onde tiraria as pedras que tornaria a jogar em quem quer que aproximasse. Os espinhos cobriam agora o seu corpo e o seu coração.
Era novamente Fera. Até que, vítima de outra metamorfose, tornasse a ser Bela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário