quarta-feira, 4 de julho de 2012

A Fera e a Bela

(Não detenho o  direito autoral da imagem)

Acostumada a ser Fera, habituou-se com os próprios espinhos. Avisava de antemão o que deveriam esperar as pessoas que dominava. Como monstro, magoava, espetava, estraçalhava. Não por querer, mas achou que aquela personalidade era tudo o que tinha dentro de si. 

Achou, contudo, fera mais feroz, que fez de si, Bela. Contente por, finalmente, ter-se livrado da maldição, das carrancas e espinhos, concentrou-se em cuidar, preocupar-se, e amar, como ela imaginava que uma Bela faria. Havia um problema, porém. Fragilizada, não tinha qualquer defesa contra os ataques da fera por quem  se apaixonara. 

Sentia os espinhos lhe furarem a pele, as garras lhe arranhavam os membros, a força lhe quebrar os ossos, e o descaso murchar suas pétalas.

Decidiu, portanto, não mais ser Bela. Emudecida em seu próprio sofrimento, sentiu-se fortalecer, os membros crescerem e as garras ressurgirem. Os olhos, que outrora foram claros e puros, tornavam-se negros como a ausência de esperança. O corpo maculado agora era uma carcaça, tão rígida quanto o mármore, de onde tiraria as pedras que tornaria a jogar em quem quer que aproximasse. Os espinhos cobriam agora o seu corpo e o seu coração. 

Era novamente Fera. Até que, vítima de outra metamorfose, tornasse a ser Bela.

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