sexta-feira, 4 de março de 2011

Sobre o Carnaval


Eu admito: já participei de Carnaval em algum tempo da minha vida. Até onde lembro eu tinha entre quatro e oito anos e costumava me fantasiar de índia e cigana. Era um clássico. E ainda fazia pose de Sandra Rosa Madalena.

Porém, naquele tempo, os carnavais me encantavam. As "armas" do mela-mela não eram ovos e farinha, mas as inocentes espuminhas e os confetes coloridos de papel. As músicas que eu dançava eram marchinhas clássicas e imutáveis desde meados do século XX e era sempre divertido pular ao som de "Mamãe, eu quero mamar" e "São dos carecas que elas gostam mais...", ao contrário do que se ouve hoje em dia, tempo em que três únicas músicas fazem sucesso no Carnaval e se uma delas não incentivar o desrespeito à mulher e o excesso de álcool, beirando a cirrose, pode-se considerar uma vitória. Nos Carnavais que eu frequentava, os adultos bebiam, é claro, e pulavam com acessórios coloridos. Já as crianças, elas brincavam, corriam, até se melavam, mas dava para sentir o espírito da coisa. O Carnaval, na minha visão infantil, parecia ser a melhor época do ano, pois cada um poderia ser o que tivesse vontade. Eu, por algum motivo, gostava de ser uma cigana. Vai entender. Nos dias de hoje, parece que a essência do Carnaval ainda é a diversão, mas para divertir-se é necessário escovar os dentes com cerveja e beijar algumas dezenas de pessoas. E se esse objetivo nao for alcançado, o Carnaval terá sido inútil.

Definitvamente, não estou criticando quem gosta dos Carnavais de hoje em dia. Longe de mim. Só quero deixar claro que não faz o meu tipo. É isso. Só não faz o meu tipo. Não nasci para isso.

Mas ainda adoro o Carnaval. Rezo todos os dias para que esse período chegue mais rápido a cada ano. Quase uma semana inteira, a qual posso aproveitar para pôr as minhas leituras em dias. Assistir aquela trilogia que estou enrolando desde o Carnaval passado. Ir ao cinema vazio com alguem que goste muito. E a melhor parte é sair no meio da rua e ter a impressão de que sou dona da cidade, por ser uma das únicas pessoas que não saiu dali. Ah! Também gosto dos desfiles de escolas de samba. Gosto de madrugar para assistir aos espetáculos exibidos pela TV. E torço. Minhas escolas de samba são a Beija-Flor e X9 Paulistana. Não me pergunte o por quê, o máximo que tenho são teorias de como acabei torcendo por elas.

Também nutro aquela impressão de que, enquanto o resto do país queima os neurônios com poluição sonora e todo tipo de bebida alcoolica imaginável, eu estou exercitando a minha massa cizenta e descansando a massa física. O mais engraçado, definitivamente, é ver, na quarta-feira, todo mundo inutilizado, como se tivessem acabado de levantar da cova.

Mas estou determinada a voltar a ser alguém sociável no Carnaval. Então, se alguém tiver conhecimento de um lugar onde ainda existam Carnavais de verdade, por favor, entre em contato. E por Carnavais de verdade, entendam: marchinhas, fantasias ou roupas coloridas, confetes, pessoas de todas as idades mas na medida certa, sem que empurrões sejam necessários a fim de adquirir algum espaço, onde o álcool nao seja usado com a finalidade da água mineral, e onde as pessoas se respeitem, ao menos.

Fica o meu clamor. Mas para os que não concordam comigo e têm a coragem de participar dos Carnavais os quais abomino, deixo a minha eterna admiração e os votos de que estejam vivos e com saúde na quarta-feira de cinzas.

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