Não é por estar a frente de uma sala de aula que alguém merece ser chamado professor. Cheguei a conclusão que essa profissão é mais banalizada que a de jornalista: qualquer pessoa que passe uma atividade qualquer já é classificada como mestre, educador! Pega leve.
Professor é mais. Não digo aqui que você precise passar pelas duras carteiras de uma universidade para ser um professor, embora, preferencialmente, isso deva acontecer. Mas professor é qualquer um que tenha conhecimento (ainda que pouco) e saiba como passá-lo. E não é dissertando sobre algo que isso é possível. Na verdade, eu me corrijo. Professor é qualquer um que saiba fazer com que outro adquira algum conhecimento, ainda que ele próprio não o tenha.
Professor não ironiza, não censura, não satiriza, não faz com um indivíduo pense que "não tem jeito" só porque errou. Professor não faz, mas segura a mão do indivíduo para que ele faça por si mesmo. Professor não desinteressa, professor estimula. Professor não se aborrece, confia.
Se você é professor, nunca: diga que o trabalho do seu aluno está horrível; fale o tempo todo sem parar pois não tem paciência para escutar a errônea fala de seu aluno; faça o trabalho por ele, por mais entendiante que possa parecer explicar uma lição passo a passo algumas vezes; olhe de forma desacreditada para um dos seus alunos; balance a cabeça negativamente enquanto um indivíduo dá o seu melhor; menospreze a capacidade do seu aluno (com alguma ajuda sua, você não faz ideia do quão longe ele pode chegar).
Se você é professor, por favor: seja atento com seu aluno, deixe-o falar; não diga que ele fez besteira, mas que tem certeza que ele pode fazer algo melhor; respeite os limites do seu aluno, mas tente expandi-los; não compare seus alunos, não pegue um deles para exemplo, isso gera sentimento de inferioridade para aqueles que não foram citados; conheça seus alunos o máximo que puder; avalie-os por seu desenvolvimento individual e não por não serem tão geniais quanto o melhor da turma.
Obrigada.
(não, isso não foi pessoal)
domingo, 27 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Semáforo
Já passavam das oito da noite e ela ainda pegava o jeito de dirigir àquele horário. Era mais difícil identificar os buracos recorrentes, manter a atenção nos carros que às vezes surgiam sem aviso (e como uma boa iniciante na direção, ela olhava durante quase um minuto para os retrovisores antes de mudar de faixa), e ainda cantarolar os versos de Fiona Apple, que tomava conta do aparelho de som do carro.
"I thought it was a bird but it was just a paper bag..."
Parou em um semáforo e quando viu um jovem e simpático garoto vir a sua direção com uma garrafa de água e um pequeno rodo, ela suspirou e lembrou-se que, mais uma vez, esquecera de pedir uma daquelas pequenas bolsas quadradas de coro onde seu pai costuma deixar moedas no carro. Era quase impossível dirigir por Natal sem uma daquelas, com tantos flanelinhas, deficientes físicos e vendedores que parecem depender dessas moedas para viver. Então, quando ele aproximou, e com um sorriso e o polegar esticado, pediu permissão para limpar o vidro do carro, ela inclinou a cabeça, enrugou a testa numa expressão de quem se desculpa e mostrou também o polegar, mas virado para baixo, numa expressão que também havia aprendido com o pai. Entre flanelinhas e motoristas, significava "estou lisa".
Ao contrário da maioria dos garotos do ramo, aquele rapaz sorriu, compreensivo e tentou com o carro parado atrás, mas a resposta parecia ter sido a mesma. Ela observou a cena pelo retrovisor e estranhou quando o rapaz começou a limpar o vidro de trás do seu carro. "Ora, ele não me viu sinalizar que não tinha dinheiro?", pensou. Mas o rapaz parecia distraído ali. Então outros pensamentos começaram a invadir a cabeça dela. Depois de um dia fazendo aquilo, o garoto ainda parecia ter paciência para uma gentileza. Ela continuou a sorrir, cantoralando baixinho, enquanto observava o rapaz.
"And I went crazy again today, looking for a strand to climb..."
Quando ele acabou, o semáforo ficou verde e ele não lhe pediu dinheiro novamente. Sorriu para ela, com um ar divertido e ela retribuiu, agradecida e contente pela atitude inesperada. Buzinou de leve e acenou com a cabeça. Continuou o caminho para a universidade, cantarolando, e pensando que da próxima vez que passasse por aquele semáforo, gostaria de estar preparada para retribuir a gentileza.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
“Você tem uma profissão de sorte”
Não estava no melhor dos meus dias quando fui convocada à incumbência de acompanhar os pacientes do hospital psiquiátrico em que trabalho a um passeio à Praia de Pirangi para um de seus momentos de lazer semanais. Minha função seria fazer o registro fotográfico da manhã. Acabei registrando mais que fotos.
Quando entrei no ônibus, algo me incitou a sentar ao lado da pessoa cuja expressão demonstrava maior tristeza. Talvez, uma esperança íntima de fazer alguém se sentir melhor. Mas, a princípio, pouco consegui extrair daquela mulher, de olhos e pensamentos tão inquietantes.
Atrás de mim, as vozes de um grupo de mulheres disputavam uma canção religiosa. Por falta de aplausos, talvez, logo seu foco mudou e concentrou-se em mim, a “estranha no ninho”. Perguntavam sobre minha idade, família, faculdade e trabalho, o que tive prazer, quase alívio, em responder. Finalmente estava me socializando.
Um rapaz forte e bonito, também paciente, sentado ao lado das minhas novas companhias, me observava, atento. Vez ou outra, desviava a atenção para a câmera, até então inoperante, sobre minhas pernas. Quando a conversa foi se tornando monótona, o rapaz finalmente fez a pergunta que parecia estar esperando para ser feita há alguns minutos.
- Desculpe, você é fotógrafa?
Na verdade, eu não era bem isso. Era estagiária de comunicação. Pau para toda obra. Sequer havia cursado a disciplina de Fotojornalismo na faculdade. Mas respondi, menos sincera e mais curiosa sobre em que aquilo resultaria.
- Sim, sou.
- Nossa, você tem uma profissão de sorte. – respondeu-me, com o ar de quem tinha absoluta certeza do que me afirmava.
- É verdade – respondi, instintivamente, embora ainda não tivesse entendido muito bem o sentido do comentário – Por quê?
- Ninguém gosta de tirar fotos triste. Já percebeu que as pessoas sempre sorriem para as fotos? Você leva o sorriso às pessoas. Elas sempre sorriem para você.
Não respondi àquilo de imediato. Por um momento, quis acreditar que aquele jovem ex-soldado, que acabara parando no leito de um hospital psiquiátrico, estava, de fato, certo. Lembrei dos vários “xis” e “sorrias” que escutava quando criança, funcionavam como um índice para o surgimento de um enorme sorriso, que não obrigatoriamente representavam o meu humor naquele momento. Verdade, naquelas situações, o fotógrafo me fazia sorrir. Em compensação, por várias vezes, suas lentes sofreram as consequências de não eternizarem um momento verídico.
Lembrei ainda das várias expressões de tristeza, desesperança e ausência de fé que tantas câmeras já captaram. Para esses modelos, as lentes da câmera não conseguiram mascarar a realidade.
Contudo, em partes, o rapaz estava certo. Sorri para ele e consenti com a cabeça, orgulhosa de minha “profissão”. Naquela manhã, tirei dezenas de fotos. As pessoas pediam para que eu as fotografasse ali na praia, em um momento de descontração. E eu não precisava pedir para que me dessem – ou à câmera - um sorriso sincero.
De fato, tenho uma profissão de sorte.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Projeto de Extensão da UFRN recruta voluntários para apoio pedagógico a estudantes com deficiência visual
Colóquio da ECT
Tema: Projeto de Extensão “Apoio Pedagógico a Estudantes com Deficiência Visual” (APEDV)
Palestrante: Prof. Dr. Lauro Meller (ECT - CAENE - Comissão Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais)
Local: Anfiteatro 6, térreo, ECT-UFRN
Data e horário: 9 de novembro de 2011, 4ª feira, das 16:55 às 18:30
O colóquio a ser apresentado pretende chamar a atenção da comunidade da UFRN para a questão da inclusão do aluno deficiente visual em nossa Universidade. Hoje, infelizmente, temos menos de 20 alunos com algum tipo de deficiência visual (cegueira ou baixa visão) matriculados nos cursos de graduação da UFRN, num universo que compreende cerca de 30 mil alunos.
A enorme dificuldade encontrada pelo estudante com DV para ingressar no nível superior remonta à sua passagem pelo ensino fundamental e médio; afinal, sem material adaptado (em Braille ou em áudio) e sem ledores que possam lhes passar as informações contidas nos livros impressos, como podem esses estudantes acompanhar as aulas e revisar os conteúdos?
Este projeto tem a finalidade, portanto, de formar uma equipe de voluntários dentre os alunos da UFRN, que irão acompanhar alunos cegos ou com baixa visão. Cada tutor será responsável por um estudante com deficiência visual, e os encontros acontecerão, uma vez por semana, no IERC (Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte, no bairro do Alecrim), na ADEVIRN (Associação dos Deficientes Visuais do RN, no bairro Dix-Sept Rosado), ou na BCZM (Biblioteca Central Zila Mamede, no campus da URFN), a depender da possibilidade de deslocamento dos envolvidos.
No colóquio, faremos a exposição de como o projeto surgiu, falaremos sobre as mudanças que foram implementadas e daremos todas as informações àqueles que queiram se engajar como voluntários, ministrando aulas para alunos com deficiência visual e/ou gravando textos em formato de áudio. Na ocasião, cadastraremos também os interessados em trabalhar como ledores no Vestibular, no final deste mês de novembro.
Esperamos, com essa ação, contribuir para a inclusão cultural e social do sujeito cego ou com baixa visão, ao mesmo tempo sinalizando para o nosso aluno que a educação não se faz apenas pelo conhecimento, mas também com práticas de cidadania.
Em tempo: a carga horária dedicada ao projeto será computada como “horas complementares” no histórico do aluno da UFRN.
SOBRE LEDORES PARA O VESTIBULAR:
Em tempo (somente para aqueles que são alunos da UFRN): estamos recrutando ledores para o Vestibular (27, 28, 29 nov - domingo, 2a, 3a). O trabalho é remunerado (em torno de R$ 300 pelos três dias, trabalhando das 7 às 13h, no CELME, um colégio localizado na Av. Maria Lacerda, em Nova Parnamirim). Daremos um breve treinamento sobre como se portar com a pessoa deficiente e como proceder à leitura. Os interessados devem enviar nome completo e matrícula para inclusao@reitoria.ufrn.br, com cópia para lauromeller@ymail.com.
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