terça-feira, 2 de agosto de 2011

O dia em que fomos assaltados

Hoje, antes do início de uma aula da disciplina de férias da faculdade, eu e mais alguns colegas estávamos conversando sobre experiências de assaltos. Quase todos tinham uma história dramática e temerosa a contar (o que é o comum, imagino). Eu, contudo, não consigo me recordar, se não com humor, do dia em que "fui assaltada". Não que tenha sido engraçado. Mas eu era uma criança. Talvez tenha condensado com riso as lágrimas que, naturalmente, deveriam surgir, a fim de facilitar a "digestão" da situação.


Estava eu nos meus doces e nem um pouco saudosos cinco ou seis anos de idade, no meio de um dos muitos fins de semana que costumava passar na casa da minha avó, em Maranguape, região metropolitana de Fortaleza - onde eu, então, morava.

Brincava com minha irmã no quarto da minha tia, enquanto ela conversava com um moça que prestava serviços para a minha vó, vez ou outra. Meu pai tomava - ou comia, não sei - a boa (boa para ele, convém dizer) coalhada, na cozinha. Minha mãe gritava, do banheiro "Ana (minha tia), traz a toalha!". Meu tio caminhava em direção ao portão dos fundos, por onde entraria, vindo do trabalho. Meu avô pensava na burrega perdida em uma pequena varanda que ficava de frente para o quintal, lugar onde ele adorava "esconder-se". Minha vó, essa catava feijões sentada em um banco na garagem que dava para o portão dos fundos.

Quando meu tio abriu o portão, foi barrado por dois ou três homens. Sinceramente, não lembro quantos eram. Só lembro - e muito vagamente - do barulho que fizeram. Minha vó, coitada, achou que eram bêbados. Levantou-se do banco e correu para cima do "emaranhado" de homens que seguravam meu tio. "Soltem Francisco, seus filhos da mãe! Bando de vagabundo, passem tudo para fora!", ela gritava. Foi quando um deles empurrou minha vó de volta para o banco e atirou para cima, gritando: "É um assalto!". Nesse momento, minha tia trancou a porta e janelas do quarto, onde fiquei abaixo da cama, rezando todas as orações que tinha aprendido com meus pais. Tudo o que aconteceu depois disso, sei por relatos.

Minha vó jogou peneira, feijão e banqueta para cima, clamou um sonoro "Valha, meu São Sebastião!" e saiu em direção ao quintal, onde ficaria escondida durante todo o episódio, também rezando.

Em seguida, entraram na casa, pela cozinha, com uma arma apontada para a cabeça do meu tio. Pegaram também meu pai e mantiveram outra arma em sua cabeça até que meu tio desse todo o dinheiro que tinha dentro de casa. Dessa parte não gosto de lembrar e nem tenho muitos detalhes. Talvez tenha sido a parte que decidi apagar.

Depois disso, saíram pela porta da frente, como se fossem convidados, com a promessa de que fariam pior se alguém chamasse a polícia. Contudo, a polícia foi chamada, mesmo que não tenha sido muita vantagem.

Ao fim do episódio, só lembro de ver meu pai e meu tio com ferimentos na cabeça, causados pelas armas. Minha mãe continuava gritando, impaciente, do banheiro, "Ô Euriberto, Ana tá surda?? Traz a toalha!!"

Meu avô saiu da varanda, de onde nada havia chegado aos seus ouvidos, e falava, revoltado: "Ah, se eu tivesse visto uns cabras safados desses, eu tinha 'estrupiado' tudinhos!"

2 comentários:

  1. Assaltada mesmo, nunca fui. Já fui quase assaltada, quando dois caras tentaram entrar aqui em casa.

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  2. Fui assaltado três vezes. O cenário: São Paulo. Realmente é assustador.

    O Falcão Maltês

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