Aos meus amigos homens
Lembro que há uns oito anos perdi a noite assistindo a um filme chamado "Os garotos da minha vida". Tudo de que me recordo é que a Drew Barrymore (uma das minhas atrizes americanas favoritas) estava nele e que chorei muito em uma cena em que um carro percorria uma estrada e uma música dramática inundava o background. Não me pergunte sobre o restante do elenco, ou menos a sinopse. Não lembro de nada. Mas por algum motivo, o título desse filme me veio a mente quando pensei em fazer esse post.
Quando eu tinha nove anos, fui morar em uma cidade no interior do Ceará. O nome era Varjota. Lá, comecei uma rotina totalmente diferente da que eu estava acostumada. Tinha que estudar na cidade vizinha e todos os dias voltava em "topics". Lembro que quando morava em Fortaleza morria de inveja de quem ia para casa de "topic" enquanto eu voltava todos os dias a pé com minha mãe. Então, achei a ideia o máximo. A questão é que apenas eu e mais quatro garotos estudávamos àquele horário na cidade vizinha. Eles eram primos ou amigos de longa data e todos estudavam na mesma turma. Aqueles garotos seriam minha única companhia por um bom tempo, já que sempre chegávamos cedo e esperávamos, por vezes, quase uma hora após a aula terminar para que a "topic" nos buscasse. Eu, que sempre fui metida a princesinha e patricinha (há um bom tempo atrás, convém dizer), não gostava muito da ideia de só ter garotos como companhia.
Deus, como estava errada. Foram a melhor companhia que pude ter por aqueles dois anos. Cleano, Adriano, Guilherme e Thiago não reclamavam por besteira. Riam até das piores tragédias. E não competiam comigo por notas ou garotos. Ok, Thiago competia por notas, mas acabávamos sempre estudando juntos. Me contavam piadas, algumas até um pouco machistas, e me faziam rir. Quando eu estava triste, eles paravam tudo e ficavam me escutando pacientemente, ainda que não entendessem nenhum drama da minha vida de pré-adolescente e não tivessem o que falar. Eles me escutavam e era suficiente. Eu sempre tinha um par na festa de São João ou nos desfiles da escola. Mas a melhor parte era o futebol. Sempre, ao fim das aulas quando esperávamos o carro, eles desensacavam a bola de futsal e corriam para a quadra como quatro maníacos. Eu ficava emburrada, num canto de parede, porque não podia participar daquilo. E um dia pedi para ficar no gol. Foi uma briga. Thiago e Guilherme queriam que eu participasse. Adriano e Cleano disseram que eu era muito fraca. E Thiago disse que eles poderiam chutar mais fraco para não me machucar. Cleano não gostou muito da ideia, mas fiquei como goleira deles. Até que um dia uma bola forte de Cleano me pegou e eu comecei a chorar, mesmo tentando ao máximo controlar as lágrimas. No segundo seguinte, Cleano e Thiago já estavam brigando. Tudo porque eu havia sido machucada. Mas logo lá estava eu no gol novamente. Firme e forte pronta para outras das boladas de Cleano.
Ah, como sinto falta desses garotos e do quanto eu podia ser eu mesma com eles. Eles não se importavam se eu nao usava batom ou não tinha arrumado o cabelo. Eu era a mesma garota sempre e é isso que adoro nos meus amigos homens.
Há dois dias, deixei a redação mais calorosa e divertida que já tive o prazer de trabalhar (ok, foi a única até agora). Ao fim do meu período lá, éramos eu e mais oito homens ali. Como era bom não ter que me preocupar se minhas brincadeiras "tocariam" alguém. Eles sempre riam até dos meus piores "coices". Ao contrário das garotas. Me perdoem, minhas amigas garotas, eu as amo também, mas eu me controlo ao máximo para não acabar ferindo, sem querer, a sensibilidade de vocês. E era uma coisa que eu não precisava me preocupar com Cefas, PJ, Rômulo, Edilson, Sandro, Arthur e Igor. Sempre fui feminista, mas eles me faziam rir até das mais ácidas piadas machistas. Rômulo as contava apenas para me ouvir dizer, desinteressada: "Vá para uma porra, Rômulo". E ria disso.
Não lembro de ter brigado, jamais, com um amigo homem. E não lembro de ter estado triste ao lado de nenhum alguma vez na minha vida. Eles sempre falam uma besteira ou uma coisa inesperada que nos faz rir descontroladamente. Ou no máximo, pensamos, como uma desculpa para o comentário idiota: "Homens..."
(Esse post também é dedicado a Túlio, Thales, Ronaldo, Jean, Kallil e Lucas. E ao principal garoto da minha vida: Meu pai)
Que texto delicioso, Andressa.
ResponderExcluirGostaria de convidá-la para escrever algo para o meu blog. Pretendo publicar em livro no futuro. A idéia é focar um ator/atriz, um filme, um diretou ou um gênero... Tudo muito pessoal, sem preocupações técnicas...
Topa?
Beijos
O Falcão Maltês
Caraca, até eu estou na lista dos machistas (hehehe)?
ResponderExcluirÓtimo texto. Acho que consegui sentir a sua emoção e "saudosismo" ao escrever cada parágrafo.
A gente trabalhou tão pouco tempo juntos. Mas foi tudo muito válido.
Deus abençoe sua vida! Nos vemos pelo bloco H, Labcom e, quem sabe, pelas redações no futuro.
Abraço,
Igor