terça-feira, 12 de julho de 2011

Querida Alice...

Eu decidi que preciso de um amiga para desabafar. Minha letra anda feia desde que comecei a usar computadores para tudo, então, rendida ao mal da tecnologia, uso de você, querida Alice, para redigir o meu diário. Prometo que isso não acontecerá com frequência, apenas esporadicamente. Ora, Alice, não reclame. Antigamente os blogs eram todos assim, cheios de vidas pessoais, e todos achavam o máximo. Deixe-me fazer isso, ok?

Gostaria de contar-lhe que ontem tive um dia encantador. Fui ao cinema como au pair e foi tão interessante. Acompanhei dois garotos, ambos encantadores. O primeiro, Max*, é tão inteligente quanto proativo. Um tanto independente, mas adora ser elogiado. Me identifico mais com ele que mesmo com Tom*, um doce de criança. Gentil, educado, calmo e um tanto tímido. Mas o que mais me encanta em Tom é o carinho com que me abraça. E como se desculpa quando diz algo que acha que me ofendeu.

Certo dia, Tom disse que eu estava gorda. Ameacei chorar e disse que não estava tão gorda assim. Ontem ele se desculpou... Fomos comprar chocolates e eu disse que não compraria muito para não ficar ainda mais gorda. Tom disse, gentil como sempre: "Ora, deixe de bobagem!" "Ora digo eu. Você foi quem disse que eu estava gorda, lembra?" "Mas é só um pouquinho, você é bonita."

Valeu mais que o elogio que nunca recebi dos meus paquerinhas da quinta série. Então fomos ao cinema. O filme foi um novo de Jim Carrey chamado Os Pinguins do Papai. Faz bem o estilo Fada do Dente, Minha Babá Favorita, e essa gama de filmes infantis que nem são tão decentes quanto animações  e nem tão desrespeitosos quanto comédias românticas. O filme era dublado. Argh. Já mencionei que não suporto filmes dublados para você, Alice? Mas sabe, ontem não fez a menor diferença. Eu estava mais preocupada com a diversão e o bem estar daqueles dois guris encantadores.

O filme demorou um pouco para começar e ficamos vinte minutos no cinema apenas conversando e comendo. Julio*, primo de Tom, deixou que um chiclete caísse acidentalmente na cadeira de Tom. Mas, como estava tudo escuro, ninguém notou que o chiclete estava na cadeira. Pensamos que estava no chão. O resultado veio minutos depois quando o inquieto Tom levantou da cadeira. Coitado. O chiclete fazia uma ponte elástica entre sua calça e a poltrona do cinema. Os garotos só conseguiam rir do drama do pobre Tom. Então, eu o chamei e, pacientemente, retirei cada pedaço de chiclete da sua calça e da poltrona. Não consegui tirar tudo, é verdade, mas Tom parecia menos envergonhado, ao final.

O filme é engraçado e tem aquela liçãozinha de moral que parece ter sido selecionada a dedo por psicopedagogos. Foi extremamente divertido sair com aqueles garotos. E mais uma vez enfatizo o quanto adoro a companhia masculina, às vezes. Ainda que seja de dois garotos de seis anos.

Alice, querida, me parece que gosto de sofrer. Sequer me dou férias, logo as férias que passei meses chorando para ter. Mas tudo bem, Alice, se temos uma vida, vamos vivê-la, sim? Com seus trabalhos, disciplinas, bicos e todo o resto.

Alice. Fiquei extremamente decepcionada com algo que descobri hoje. Nosso país é mesmo um caos. Mesmo quando tenta-se combater a corrupção e colocam-se pessoas "de caráter, de farda e de honra" em certas posições, parece que tudo só piora, pois a honestidade delas é apenas mais cara que a dos seus antecessores. Não posso falar muito sobre isso agora, mas prometo que em breve falarei.

Estou sentindo uma sensação engraçada de confusão e decisão. Paradoxal, nao é? Mas tudo vai dar certo, eu sei. À proporção que tenho mais certeza de que não sei o que quero, sei também o que não quero. Isso ajuda bastante, querida. Sinto que estou no caminho certo, embora não saiba para onde ele vá me levar. Sei ainda que há desvios, placas indicativas, retornos, triângulos e rotatórias. Então, não devo me preocupar, afinal. Tenho 18 anos, ainda, Alice. Não morrerei amanhã. E, se morrer, acho que fiz o bastante para alguém da minha idade. Mas hei de ser alguém.

Por falar em trânsito, torça, Alice, para que eu passe no exame do Detran dessa vez. Se inteligência fosse medida por ausência de habilidades motoras, eu seria a nova Einstein, tenho certeza disso.

Sinto que já escrevi demais, Alice. Obrigada por me permitir. À propósito, os nomes acompanhados de asteriscos são fictícios.. Eu sei que você é um tanto indiscreta, não se ofenda.

Até logo, Alice. Prometo que voltarei a encher seu espaço com assuntos mais úteis.

A.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...