terça-feira, 24 de maio de 2011

Entre a gasolina e a maquiagem

Tradicionalmente tida como uma profissão de caráter masculino, pareceu-me um tanto curioso quando, por ajuda do acaso, deparei-me com um posto de gasolina em que todos os frentistas eram mulheres. Ainda procurei e insisti, perguntei, curiosa por aquela digna exceção, mas o fato era, de fato, consumado: as doze frentistas do Posto Odon, no bairro Vale do Sol, em Parnamirim, eram mulheres tão eficientes em seu trabalho quanto cuidadosas em sua maquiagem e cabelo.

A gerente do estabelecimento, Giseuda Souza, trabalha no ramo há dezoito anos e explica o espaço que as mulheres têm preenchido em postos de gasolina: “Quando eu comecei, realmente não exis­­­­tiam mulheres em pos­tos, aí eu comecei a misturar, metade homem, metade mulher. Mas quando eu iniciei na Odon, havia dois garotos como frentistas: um foi promovido e o outro saiu. Então, ficamos só com as meninas. Os clientes diziam que as garotas eram mais cuidadosas, não manchavam o carro e eram mais simpáticas”, relata.

Giseuda explica que a eficiência das mulheres na função consegue ser equivalente a dos homens e acrescenta que ser mulher não é um pré-requisito para trabalhar no atendimento do posto Odon, "mas as meninas acabam se destacando nas entrevistas”, ela justifica.

A funcionária Tais Patrícia da Silva, 20, é uma das garotas do posto Odon. Mesmo cursando Serviço Social no turno da noite e acordando todos os dias às 4h30 para chegar ao trabalho às 5h, ela está sempre correndo entre motos e carros que aproximam para abastecer. O cuidado com a maquiagem e o cabelo chama a atenção em uma profissão em que, em regras gerais, a precaução maior é não se sujar de gasolina. “Nós todas somos vaidosas”, ela confirma o que eu já havia notado. Taís não parece ter problema algum com o trabalho. “Para mim, é um trabalho como qualquer outro”, ela explica antes de sair às pressas para atender um cliente.

Lurdes Alves, de 28 anos, comenta que nos dezenove meses em que trabalha como atendente no posto Odon, comentários como “só abasteço aqui porque só tem mulher” são comuns. Ao que parece, os clientes não se incomodam em ter mulheres no cargo e, alguns, até preferem. Ela conta que as cantadas são frequentes no início, mas como o público do posto é sempre o mesmo, ela e as demais garotas acabam fazendo amizades.


Lurdes Alves, uma das garotas do Posto Odon


A atendente Janaína de Oliveira, 24, já trabalha no posto há três anos e acrescenta que as brincadeiras são inevitáveis, até por ser “novidade” num posto de gasolina frentistas mulheres: “As pessoas comentam que as mulheres estão tomando conta mesmo e os homens estão ficando para trás”, diverte-se.


Tão impecável quanto as outras garotas, Janaína diz que não tem dificuldades em manter os cuidados com a aparência. “Não é difícil ser vaidosa como frentista. Mulher sempre tem um jeitinho para estar bonita, mesmo cheirando a gasolina, não é?”, brinca.


Taís, Lurdes e Janaína são apenas alguns exemplos das inúmeras personagens que redefinem todos os dias o papel das mulheres na sociedade e provam que mesmo os trabalhos tidos socialmente como mais masculinos podem, sim, ser assumidos e até melhorados pelo toque feminino de garotas como elas, que conciliam gasolina e rímel com classe e eficiência indiscutíveis.


Originalmente publicado na página Mulher do Jornal Potiguar Notícias

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