Me recuso a utilizar a denominação brasileira para o filme de terror/comédia/drama/sociologia do diretor Tod Browning - o realizador de Dracula (1931). "Monstros" é quase uma ofensa à mensagem repassada pelo filme Freaks.
O filme em preto e branco de 1932 é chocante por demonstrar verdadeiramente o que, hoje em dia, utilizaríamos programas de edição gráfica para montar. O ambiente? Um circo. Lugar de alegria, gargalhadas, bichos e pessoas felizes, certo? Errado.
Os "bichos" de Freaks são pessoas comuns com apenas uma diferença: elas são aberrações - e não monstros.
O contexto é o dia-a-dia dessas adoráveis e horríveis - depende do ponto de vista - criaturas no circo em que são atrações. Mas claro que lá também há pessoas "normais" como a esnobe trapezista Cleopatra e homem forte Hercules, amantes e companheiros de discriminação contra os Freaks.
Cleopatra vê em Hans, o cordial e rico anão do circo, a possibilidade de ganhar dinheiro para esbanjar com Hercules e, mesmo que o homenzinho lhe deixasse enojada, ela o seduz e casa-se com ele. Na cerimônia, os freaks, sempre unidos, resolvem dar uma carta de credibilidade a Cleopatra e cantam uma música com a finalidade de aceitá-la em seu ciclo. Infelizmente - para a trapezista - ela estava bêbada e acaba demonstrando o seu desprezo juntamente com Hercules.
A vingança dos freaks é, na minha opinião, a única parte "aterrorizante" do filme, mas como torci para aquilo desde que não simpatizei nem um pouco com Cleopatra, só consegui exclamar um "Bem feito!" ao fim da cena.
Freaks é, na verdade, um dos filmes mais lindos e humanos que já assisti, graças à indicação do colega Cefas Carvalho. E cada freak - Daisy e Violet, as gêmeas siamesas de gostos e humores completamente divergentes, o engraçado homem-torso, e ainda o inteligente e sério homem-cobra (cujo ator foi casado e pai de cinco filhos) - me encantou singularmente.
Freaks é, mais que um filme comum, uma lição de vida e uma crítica ao pensamento da época, ainda mantido por muitos de nós.
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